Em 1979, reorganizou-se na freguesia de Manhouce um grupo de cantadores e tocadores para interpretar o folclore local, para participar na Festa do Senhor dos Enfermos, em Manhouce e no Convívio da Casa de Lafões que levou uma centena pessoas a almoçar em Manhouce. Orfeão de Manhouce, Conjunto de Manhouce e Grupo de Cantares Regionais foram as primeiras designações do Grupo Etnográfico de Cantares e Trajes de Manhouce, formalmente instituído em 1981, assumindo-se na continuidade do Rancho Regional de Manhouce formado em 1938 para a participação da aldeia de Manhouce ao concurso "A aldeia mais portuguesa de Portugal.
Em 1980, participou no 4º Festival de Folclore do Algarve, um evento que foi difundido em direto pela Rádio e Televisão de Portugal. O grupo apresentou-se a público trajado, sem coreografias, com dois tocadores e dois solistas (iabel Silvestre e António Lourenço da Silva) e com um repertório predominantemente polifónico, constituído por modas coligidas localmente junto de detentoras dessa tradição. Grande parte do repertório do GECTM fez parte da experiência, em contexto informais, dos seus elementos. Esta experiência, proporcionou também a aprendizagem da forma de o cantar a três vozes, em movimento paralelo, por um coro dividido: o baixo (voz mais grave), o raso (a voz que sobre aquela se movimenta à distância de terceiras maiores e menores, paralelamente), e a de cima ou de riba (a voz que se movimenta em quintas paralelas sobre o baixo). Aproveitando estes conhecimentos e destrezas dos seus elementos, o GECTM recorre sistematicamente à execução de melodias em movimento paralelo. A forma de execução lembra o organum medieval enquanto a afinação e segurança com que o coro a põe em prática reforça a ideia de que foram "autenticamente" vividas pelos seus elementos. Em palco, o GECTM distinguiu-se de outros grupos que também representavam práticas de matriz rural, conquistando tanto ao nível do mercado do espetáculo (apresentando-se em inúmeras localidades do território nacional e fora de Portugal no Brasil, Espanha e França para comunidades portuguesas e seus descendentes) como do disco (fez um contrato com a EMI-Valentim de Carvalho do qual resultou a edição de quatro fonogramas diferentes). Com especial incidência durante a década de oitenta, o GECTM foi um símbolo local, regional e até nacional da cultura popular de matriz rural. O prestígio alcançado pelo grupo reflectiu-se nos manhoucenses em geral, contribuindo para reforçar o sentimento de nós em torno do "ser de Manhouce". Entre 1980 e 2000, o grupo alargou o número dos seus elementos de treze para dezanove e a variedade na instrumentação e aumento do número de dois para seis instrumentos e o alargamento da tocata às mulheres (Cristina Maria Nunes Fonseca tocadora de viola beiroa, Maria Emília de Jesus Ferreira, tocadora de cavaquinho e Ana Lúcia Silva, tocadora de viola braguesa). A principal solista do grupo foi Isabel Silvestre, havendo mais duas solistas, Sandra Costa e Inês Barbosa. O grupo interrompeu a atividade em 2003. Texto de Maria do Rosário Pestana.