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Cantares femininos polifónicos

Cantas, cantaraços, cantaréus, ternos, são algumas das designações do canto polifónico feminino em Portugal. A relevância social desta prática de cantar a vozes é patente na quantidade de termos émicos usados tanto para designar as diferentes cordas vocais como os géneros vocais. Se em Baião designavam ‘falsete’ e ‘contra’ às vozes polifónicas, noutras localidades surgiram termos como ‘por riba’, ‘raso’, ‘por baixo’, ‘segundas’ ‘ponto’, ‘alto’, etc. Para referir os grupos e(ou) as práticas, encontramos termos como ternos (a duas e três vozes reais), cantas (a duas vozes, em terceiras paralelas), modas (a uma, duas e três vozes reais), cantarolas (a duas e três vozes), cantaraços (a duas vozes em terceiras) com e sem ‘cantiga’, cantaréus (a duas vozes em terceiras), etc.

Cantar a vozes requer competências musicais específicas e um acordo social expresso logo de imediato no número de vozes de cada uma das partes polifónicas e a disposição das diferentes vozes no espaço performativo (a voz mais aguda não deve ficar junto da voz do meio, para não ‘ralhar’).

Em 1931, Gonçalo Sampaio observou a existência de repertórios e competências musicais femininas, afirmando que há certos ”cantos religiosos” que são “entoados por todo o povo” e outros que “pertencem exclusivamente às mulheres” (Sampaio 1931, 8). Dois anos depois, em 1933, Gonçalo Sampaio no estudo intitulado Coro das Maçadeiras, constatou que “[...] também as maçadeiras do Minho possuíam um canto próprio, um coro de trabalho, naturalmente para regular e cadenciar o seu esforço” (Sampaio 1933, 355).

Maria do Rosário Pestana

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