Cante Alentejano
O “cante” ou “cante alentejano”, também designado ‘cantar à alentejana” (cantar à moda do Alentejo), é uma prática de canto polifónico, frequentemente cantado sem acompanhamento instrumental, em contextos públicos ou privados, por grupos formalmente instituídos (frequentemente trajados e com cerca de 15 a 30 elementos) e com um mestre (ensaiador); ou por grupos não-formais, mistos, masculinos ou femininos. Requer três papeis - o ponto (solista, tenor ou barítono), que normalmente inicia o canto; o alto (solista, um tenor que entra depois do ponto e canta uma 3ª acima, fazendo por vezes a quinta, ou a 10ª acima do coro, frequentemente ornamentando a melodia, e destacando-se deste); e os baixos ou segundas (designações locais do coro) que entram após o alto (Castelo-Branco 2014, 97; Castelo-Branco 1994, 25). Já em 1946, o compositor O repertório do Cante Alentejano é estrófico, sendo cada nova estrofe iniciada pelo ponto. Localmente, designam estilo à melodia. Chama-se cantiga à quadra introdutória e moda às diversas estrofes que seguem a cantiga. A mesma cantiga pode ser usada para introduzir diferentes modas e a temática da cantiga pode não corresponder à moda que lhes segue. O título de uma moda está relacionado com o texto do primeiro verso1.
Vejamos o exemplo da moda que tem como título “Ao passar a ribeirinha”:
cantiga Os olhos requerem olhos
Os corações, corações
Também as boas palavras
Requerem boas ações.
moda Ao passar a ribeirinha
Pus o pé, molhei a meia,
Pus o pé, molhei a meia
Pus o pé, molhei a meia.
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Enquanto que a criação de novos versos acompanha o dinamismo da atualidade, abordando temáticas relacionadas com acontecimentos e preocupações atuais, a criação de novos estilos, ou seja, novas melodias, é menos frequente. No final do século passado, a etnomusicóloga Salwa Castelo-Branco assinalava o facto de apesar de nenhum cancioneiro referir o nome dos criadores de letra e música, estes serem bem conhecidos e admirados localmente, dando como exemplo o poeta popular Manuel Castro e o cantador António Luís Fialho, a quem são atribuídos “dezenas de estilos” (Castelo-Branco 1992, 552).
Na documentação histórica sobre o Cante Alentejano escasseiam referências a normas tácitas ou explícitas de regulação desta prática musical coletiva.
Maria do Rosário Pestana
Maria José Barriga