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Tunas e cantares

Não obstante as particularidades de cada tipo de tuna, os estudos publicados em Portugal identificam um denominador comum a todas as tunas: a preponderância de cordofones dedilhados (Oliveira 1966, 157-8; Sardinha 2005, 219-220; Capela e Cruz 2010, 1282; Coelho et. al. 2012, 84). A análise dos documentos levantados no âmbito deste projeto permite sustentar que, no final do século XIX e na primeira metade do século XX, o termo ‘tuna’ remetia para grupos musicais instrumentais, essencialmente constituídos por cordofones. De facto, a preponderância de instrumentos de corda dedilhada está patente na iconografia de tunas ativas nas primeiras décadas do século XX, nas quais predominam os cordofones de plectro.

A partir da década de 1940 muitas associações culturais e recreativas criadas em torno de tunas suspenderam a sua atividade musical, em alguns casos durante várias décadas. Algumas delas mantiveram, todavia, a sua existência formal e, em alguns casos, outras valências, como grupos cénicos ou desportivos. As transformações políticas, sociais e financeiras ativadas após a Revolução de Abril de 1974 potenciaram um significativo incremento do associativismo em Portugal, que se traduziu não só na fundação de novas associações, mas também na reativação de outras que, apesar de suspensas durante as décadas precedentes, preservaram a sua existência legal e as suas sedes.

Muitas das tunas reativadas no último quartel do século XX aproximaram-se de um modelo performativo divulgado pelas orquestras típicas que emergiram em Portugal nas décadas de 1940 a 1970 (Raposeira e Moreira 2010, 984-985) e, mais recentemente, por grupos de recriação de música tradicional. Algumas tunas adotaram denominações como tuna popular, tuna e cantares ou tuna de cantares. Trata-se de grupos que orientam a sua ação para a representação de tradições locais, através do recurso a instrumentos e repertórios musicais conotados com as localidades e regiões em que estão implantados. As performances destes grupos são geralmente realizadas em palco, com os músicos em pé e dispostos em semicírculo, forma de apresentação análoga à das tunas académicas que emergiram em Portugal a partir do final da década de 1980 (Capela e Cruz 2010, 1283; Coelho et. al. 2012 261-289). Estas tunas, que compreendem invariavelmente uma secção vocal, atuam em eventos diversificados como encontros de tunas e de grupos de música tradicional, festas locais e, com alguma frequência, festivais de folclore.

Referências:
Capela, Conceição e Cruz, Leonor (2010) “Tuna” in Castelo-Branco, Salwa (dir.), Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX. Lisboa: Círculo de Leitores. Vol. 4, 1281-1284.
Coelho, Eduardo, Silva, Jean-Pierre, Sousa, João Paulo e Tavares, Ricardo. 2012. QVID TVNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. Porto, Viseu e Lisboa: CoSaGaPe.
Oliveira, Ernesto Veiga de. 1966. Instrumentos Musicais Populares Portugueses. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Raposeira, Carla e Moreira, Pedro (2010) “Orquestra Típica” in Castelo-Branco, Salwa (dir.), Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX. Lisboa: Círculo de Leitores. Vol. 3, 948-949.
Sardinha, José Alberto. 2005. Tunas do Marão. Vila Verde: Tradisom.

Sugestões de leitura:
Castelo-Branco, Salwa, Neves, José Soares e Lima, Maria João (2003) “Perfis dos Grupos de Música Tradicional em Portugal em Finais do Século XX” in Castelo-Branco, Salwa e Branco, Jorge de Freitas (orgs.) Vozes do Povo: A Folclorização em Portugal. Lisboa: Celta (73-141).
Marques, Rui (2017) “Tuna” in Bloomsbury Encyclopedia of Popular Music of the World, Vol. XI – Genres: Europe, ed. David Horn; John Shepherd. New York: Bloomsbury Publishing, 785-786. ISBN: 978-1-5013-2610-3.
Minhava, Ângelo. 1984. Duas Tunas em Paralelo (Ermelo-Carvalhais). Vila Real: Minerva Transmontana.
Neves, José A. e Cristóvão, Artur. 2001. “Música Tradicional como Traço de Identidade do Mundo Rural: Um Estudo de Quatro Tunas”. In Atas do I Congresso de Estudos Rurais. Vila Real, UTAD. Disponível em: http://home.utad.pt/~des/acervo_des/2001criartfmustra22.pdf [Consulta: Junho de 2017]

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