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Tunas e associativismo republicano

Em Portugal, no início do século XX, proliferaram instituições de cariz republicano, designadas ‘centros republicanos’. Estas instituições desempenharam funções diversificadas que “passavam pela militância política e pela formação ideológica, mas também pela ação cultural e pedagógica” (Pintassilgo e Rodrigues 2013, 624). Segundo a historiadora Lia Ribeiro, a relevância atribuída pelos partidários do republicanismo às práticas culturais estimulou a criação, no seio dos clubes republicanos, de secções dedicadas exclusivamente à música, ao teatro ou à dança (Ribeiro 2011, 77).

Entre os grupos musicais constituídos como secções de centros republicanos constam várias tunas, cuja atividade aparece documentada em periódicos publicados na reta final da primeira década do século XX. Inseridas numa rede de clubes republicanos que foi progressivamente ampliada a outras associações, estas tunas participaram em concertos, récitas literárias, apresentações teatrais e excursões, bem como em comemorações de natureza cívica promovidas pelas elites republicanas. Os eventos em que estas tunas se apresentavam visavam frequentemente angariar fundos para financiar a atividade de escolas tuteladas pelos centros republicanos (idem, 269) e para suprir necessidades básicas de estratos mais desfavorecidos da população.

Após a transição para o novo regime muitos centros republicanos interromperam a sua atividade. Todavia, algumas secções culturais perduraram após o encerramento do centros a que estavam vinculadas (idem, 58). Com efeito, a investigação revelou que algumas tunas criadas no seio de clubes republicanos continuaram ativas após a Implantação da República, como instituições autónomas.

A fundação de centros republicanos - e, por conseguinte, das secções culturais que neles emergiram - ocorreu sobretudo nas áreas de Lisboa, Porto e Coimbra, tendo as restantes regiões do país permanecido menos representadas (idem, 49). Este fenómeno alastrou, contudo, a vários pontos do interior do país, por iniciativa de “notáveis locais” (idem, ibidem). Efetivamente, a pesquisa desenvolvida no âmbito deste projeto revelou que a fundação de associações musicais em localidades periféricas relativamente aos principais centros urbanos foi, por vezes, estimulada por figuras destacadas do movimento republicano.

Referências:
Pintassilgo, Joaquim e Rodrigues, Maria Manuela (2013) “Centros Escolares Republicanos” in Rollo, Maria Fernanda (ed.), Dicionário de História da I República e do Republicanismo. Lisboa: Assembleia da República. Vol. 1 (pp. 624-628).
Ribeiro, Lia. 2011. A Popularização da Cultura Republicana (1881-1910). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.

Sugestões de leitura:
Capela, Conceição e Cruz, Leonor. 2010. “Tuna” in Castelo-Branco, Salwa (dir.), Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX. Lisboa: Círculo de Leitores. Vol. 4, 1281-1284.
Marques, Rui (2017) “Tuna” in Bloomsbury Encyclopedia of Popular Music of the World, Vol. XI – Genres: Europe, ed. David Horn; John Shepherd. New York: Bloomsbury Publishing, 785-786. ISBN: 978-1-5013-2610-3.
Ribeiro, Lia. 2003. A Popularização da Cultura Republicana: 1881-1910. Dissertação de mestrado em História das Ideologias e das Utopias Contemporâneas apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sob a orientação do Prof. Doutor Fernando Catroga.
Sociedade Promotora de Educação Popular. 1909. A Tuna - Número único comemorativo do 1.º aniversário da Tuna da Sociedade Promotora de Educação Popular. Lisboa: Sociedade Promotora de Educação Popular.

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