Neste excerto de uma entrevista realizada na Associação dos Amigos de Figueiredo de Alva (Adafa) aos elementos do grupo que Ementa as Almas na localidade de Figueiredo de Alva, Gina Maria Martins fala sobre as determinações e acordos sociais em torno da Ementa das Almas.
Em Figueiredo de Alva, por iniciativa de Gina Maria Martins (um dos elementos do extinto rancho folclórico local) a Ementa das Almas foi reactivada (não sabe precisar a data), depois de uma interrupção de vários anos devida ao falecimento da D. Rosalina, uma ementadora localmente muito respeitada. No novo contexto de reactivação, a Ementa das Almas passou a realizar-se todas as terças e quintas feiras a partir da quarta semana da Quaresma. Em 2017, o grupo cantou durante cerca de uma hora os cinco cânticos da Ementa das Almas: “Ementa”, “Grito das Almas”, “Martírios da Cruz”, “Perdão” e “À Porta das Almas Santas” (na Semana Santa cantaram ainda os “Martírios da Semana”). Começam a cantar cerca das 22 horas, num “ponto” (um lugar alto, predeterminado pelo grupo, que muda em cada um dos dias da Ementa), assegurando assim que toda a aldeia ouve este “cantar às almas”. Os cânticos da Ementa das Almas são cantados a uníssono, a duas e três vozes (“voz normal”, ‘descanto’ e ‘erguer’, são as designações locais das três vozes). O primeiro cântico “Ementa”, é intercalado com orações. Em 2017, quem cantou o “erguer” foi a D. Maria do Requinta). Nesse ano, a competência se sobreposição de vozes em movimento predominantemente paralelo foi exclusivamente feminina. Contudo, os elementos entrevistados têm memória de um cantador local, o sr. José Terrelo (pai de um dos elementos do grupo atual) que ‘fazia muito bem’ o descanto. Os elementos mais idosos do grupo lembram-se de que, quando eram jovens (antes da reactivação) a Ementa das almas era cantada “por um grupo muito grande”, para cantar duas vezes por noite (cerca das 22 horas e das cinco horas), todas as terças e quintas da Quaresma sendo que na Semana Santa cantavam todos os sete dias. Nesse grupo anterior à reactivação destacam as participações dos “ementadores” sr. José Rodrigues Sargento e, depois, da D. Rosalina, pelo papel que tinham na organização do grupo. Recordam que nesses anos quem ficava em casa “abria as janelas para ouvir e rezar”, que havia “muito respeito” por essa prática religiosa e que as vozes se ouviam mais longe do que agora, porque o povoado era menor e “não havia televisões”.