Próximo do largo da igreja, em Manhouce, às sete horas do dia 26 de Agosto de 2017, reuniu-se o grupo de manhoucenses que vai percorrer a pé parte do caminho até à capela do S. Macário, na serra do Montemuro, canta a três vozes “Povo deste lugar” e explica como distribuíram as vozes pelos elementos. Nos contextos não formais quando manhoucenses cantam a três vozes começam por distribuir as vozes pelos diferentes elementos: definindo quem canta e, em função da voz escolhida, o lugar dentro do grupo onde canta (na imagem, do lado direito ficam as vozes mais agudas, o ‘riba’ ou ‘voz de cima’, no centro o ‘raso’ e no lado esquerdo o ‘por baixo’).
No dia 26 de Maio realizou-se a última missa do ano na capela de S. Macário. A grande devoção que nas localidades vizinhas têm por este santo justifica que os devotos se desloquem dezenas quilómetros pelas serras até arem alcançarem o alto do monte de S. Macário (a mais de 1000 metros de altitude), que faz parte do maciço da serra da Gralheira, nas freguesias de Sul e S. Martinho das Moitas e Covas do Rio, do concelho de São Pedro do Sul. A última missa (realizada no último domingo de Agosto) e a romaria ao S. Macário (no último domingo de Julho) são os momentos de grande afluência de população de localidades e inclusive concelhos vizinhos. Na missa, mulheres (não só de Manhouce) ornamentam a melodia de alguns dos cânticos religiosos com a sobreposição de outra linha melódica, paralela, realizando intervalos de terceiras.
Em Manhouce, a participação na romaria ao S. Macário foi comprometida com a mudança do dia da Festa de Manhouce para o último domingo de Julho, de modo a permitir que os manhoucenses emigrados no estrangeiro pudessem participar no evento local. Devido à sobreposição das datas, deixou de ser possível participarem também na romaria ao S. Macário. Alguns manhoucenses aproveitam o dia em que se realiza a última missa do ano na capela do S. Macário para cumprirem a sua devoção. No dia 27 de Agosto, um grupo organizado por Sandra Costa (um elemento do grupo Vozes de Manhouce e do extinto Grupo de Cantares e Trajes de Manhouce) fez o percurso a pé até ao lugar da Coelheira. Tanto no momento de partida, em Manhouce, junto ao Centro de Convívio, na paragem na Colheira, assim como à chegada ao S. Macário, o grupo cantou a três vozes, num esforço de não deixar morrer as tradições locais (uma expressão repetidamente proferida ao longo de todo o dia). Na Coelheira encontraram-se com os restantes manhoucenses que fizeram essa viagem em viatura própria (eu incluí-me neste grupo) e seguiu com eles até ao S. Macário. Grandes cestos de merenda enchiam as malas. Na verdade, este grupo de manhoucenses, assim como outros grupos de pessoas de outras localidades, no final da missa, estendeu toalhas no chão, distribuiu comida sobre elas e merendou durante cerca de duas horas. O grupo de Manhouce instalou um leitor de CDs, ligado a uma amplificação sonora com bateria de alimentação eléctrica, onde fez tocar números do Rancho Folclórico de Manhouce, do extinto Grupo de Cantares e Trajes de Manhouce, e da chamada ‘música pimba’. No final da merenda, realizaram um baile de roda, cantando e dançando modas tradicionais de Manhouce (os mais jovens iam aprendendo com os mais velhos, procurando reproduzir as letras que ainda não conheciam assim como os passos de dança).