João Marcelino Arroyo (1861-1930)

ARROYO, João Marcelino — Nascido no Porto, no número 78 da Rua Formosa, às sete horas da manhã de 4 de Outubro de 1861, tendo sido baptizado às onze horas da manhã de 10 de Dezembro seguinte, na igreja paroquial de Santo Ildefonso, pelo Padre José Correia Maia, sendo Padrinhos João Emílio Arroyo e Marcelina Arroyo Rabal, irmãos de seu Pai. Era filho de José Francisco Arroyo, músico e comerciante nascido em Oyarzun, Espanha, em 14 de Janeiro de 1818 e falecido no Porto, na Rua de Santo António, 109, onde residia desde 1863, em 20 de Setembro de 1886, e de Rita Norberta Xavier de Rezola y Gastañaga, prima em primeiro grau do marido, com quem casara, no Porto, em 27 de Setembro de 1852, natural de Usurbil, Espanha, onde nasceu a 6 de Junho de 1829, tendo falecido na residência familiar portuense em 31 de Janeiro de 1877. A família materna de João Arroyo era basca, aristocrática e dedicada à indústria, e o Avô paterno, João Marcelo Arroyo, natural de Córdova, era músico e morreu em 23 de Julho de 1844, com 52 anos de idade, no Porto a cuja região chegara com a mulher e o filho mais velho, José Francisco, por volta de 1820. João Arroyo viria a morrer na Quinta do Casal de Santa Maria, situada em Almoçageme, Sintra, em 18 de Maio de 1930, vítima de problemas cardíacos. Não tendo deixado descendência, casou em 4 de Fevereiro de 1899, em Lisboa, na igreja paroquial de S. Sebastião da Pedreira, com Maria Teresa Pinto de Magalhães Arroyo, filha do Conde da Arriaga, falecida em Lisboa, na residência familiar, que então se situava na Rua Braamcamp, 84, 2º andar, em 4 de Abril de 1932.

Os primeiros anos da vida de João Arroyo, até 1877, passaram-se no Porto entre as ruas Formosa e de Santo António, visto que depois da mudança da residência familiar o jovem foi matriculado no Colégio Lusitano, situado na Rua Formosa, onde fez os estudos primários e secundários. Nesta época, sendo filho do músico mais influente da cidade e residindo na zona com maior densidade de residências de músicos e de salas de espectáculos, o gosto pela música e a aprendizagem musical de João Arroyo, tal como dos seus quatro irmãos, desenvolveram-se com naturalidade e rapidez, de tal modo que aos doze anos já tocava piano com apreciável desenvoltura e começava a dar os primeiros passos na composição, ao mesmo tempo que, no âmbito das actividades musicais do Colégio se dedicava à prática orfeónica tradicional no Porto, dirigindo ele próprio os coros. Foram seus mestres Miguel Ângelo Pereira, Bernardo Valentim Moreira de Sá e o próprio Pai. Datam destes anos peças para canto e piano, piano, três sonatas, uma das quais para violino e piano dedicada a Moreira de Sá, um quarteto de cordas que foi estreado por Nicolau Ribas, Moreira de Sá, Marques Pinto e Joaquim Casella, e a ópera La Fiancée d'Abydos, peças que o compositor não viria a incluir no catálogo da sua obra musical, destruindo-as.

Apesar da firme vontade de ser músico profissional, em 1877 João Arroyo matriculou-se no curso de Direito de Coimbra, obedecendo à orientação paterna de se formar para exercer actividade política em Lisboa, para assim conseguir um percurso de vida menos árduo do que o do seu Pai. Ao mesmo tempo que estudava Direito, Arroyo tocava piano, compunha música e dirigia o orfeão universitário por ele fundado, em 1880. Tendo adquirido elevada popularidade entre os alunos, foi nomeado para os representar nas cerimónias fúnebres do lente de Direito e antigo Reitor, Conselheiro Basílio Alberto de Sousa Pinto, Visconde de S. Jerónimo, falecido em 16 de Dezembro de 1881, tendo sido encarregado de fazer o respectivo elogio fúnebre. Como estudante de Direito, Arroyo formou-se em 29 de Maio de 1882, tendo defendido tese de licenciatura, intitulada Das Excepções no Processo Civil Português, em 26 de Abril do ano seguinte. Na sequência deste acto, tendo obtido apreciação negativa por parte do lente Assis Teixeira que desconfiava da sua popularidade e temia que tivesse simpatias republicanas, incidente que provocou escândalo junto de alunos e professores, tendo contribuído para o encerramento de Universidade pelo período de um mês, decretado a 11 de Maio, João Arroyo decidiu doutorar-se com o objectivo de vir a ser, ele próprio, lente de Direito. No ano seguinte defendeu tese de doutoramento, com a dissertação Estudo sobre a Sucessão Legitimária, e tornou-se lente, após concurso, com o Estudo Segundo sobre a Sucessão Legitimária, exercendo a docência até 1887 e tendo tomado posse do lugar de Lente Catedrático em 1893. Ao longo de toda a vida, João Arroyo apenas auferiu rendimentos decorrentes do seu lugar de docente universitário apesar de ter sido Deputado, Par do Reino, Ministro, Juiz do Tribunal de Contas e Vogal da Comissão Executiva do Conselho de Administração da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, como está amplamente documentado e foi já estudado em pormenor. Pelo valor dos seus trabalhos jurídicos, em 1892 foi eleito membro da Academia das Ciências de Lisboa, na Classe de Letras, tendo passado a Sócio Efectivo no ano seguinte.

João Arroyo pela primeira vez foi eleito Deputado nas eleições legislativas de 29 de Junho de 1884, passando a acumular as funções na Câmara dos Deputados com a docência universitária em Coimbra. Como Deputado, a actividade política de Arroyo foi extremamente rica, tendo ele, desde o início, revelado uma personalidade empenhada e interventiva que estudava a fundo as matérias sobre as quais entendia pronunciar-se. Os seus discursos parlamentares foram publicados em volume, tendo o primeiro, prefaciado por Camilo Castelo Branco, saído logo em 1885. Foi eleito em círculos eleitorais um pouco por todo o País, integrou numerosas Comissões e chefiou a bancada regeneradora durante muitos anos, sucedendo a Lopo Vaz de Sampaio e Melo. Ao longo da última década do século XIX e início do seguinte, formou com Hintze Ribeiro e João Franco um grupo extremamente coeso que encabeçou o Partido Regenerador. Em 1890 foi Ministro dos Negócios da Marinha e Ultramar (14/01/1890-05/04/1890), tendo planeado uma profunda reforma da Marinha com o objectivo de modernizar a Marinha portuguesa de modo a corresponder às exigências resultantes da Conferência de Berlim, e Ministro dos Negócios da Instrução Pública e Belas-Artes (05/04/1890-14/10/1890), tendo iniciado uma revisão profunda do ensino, sobretudo primário, em Portugal e reformando a Torre do Tombo ao mesmo tempo que criava condições para a preservação do património artístico português e regulava a exportação de obras de Arte. Foi também Ministro dos Negócios Estrangeiros (25/06/1900-01/06/1901), tendo assinado vários convénios internacionais sobre comércio e indústria e concluído a aprovação da Convenção de Haia, que veio regulamentar os procedimentos a seguir em caso de guerra, e a Convenção de Londres, de 19 de Maio de 1900, para a protecção da fauna africana, aprovada por Carta de Lei de 9 de Maio de 1901.

Em 20 de Março de 1902 João Arroyo, que era Conselheiro de Estado Honorário desde 17 de Janeiro de 1890 e Ministro de Estado Honorário desde Outubro do mesmo ano, foi nomeado, por Carta Régia, Par do Reino Vitalício. Na Câmara dos Pares, Arroyo não sentiu a mesma motivação que sentira na Câmara dos Deputados, o que, associado ao desfazer da amizade que ao longo de anos unira Hintze Ribeiro, João Franco e João Arroyo, fez com que este substituísse a actividade parlamentar pela musical, que durante anos estivera reduzida a uma prática privada, ao mesmo tempo que ampliava a sua riquíssima colecção de obras de Arte que daria lugar a um célebre — e muito bem-sucedido — leilão em que, em 1905, pôs à venda 1007 lotes que, segundo relatos coevos, não lhe deixaram a enorme residência da Rua de Santo António dos Capuchos, 2, para onde se mudara na sequência do casamento, deixando o Grand Hôtel, visivelmente desfalcada.

A música tomou, então, o lugar que João Arroyo sempre desejara que tivesse na sua vida, visto que ele era acima de tudo um músico, e se na passagem do século ele era um dos Portugueses mais conhecidos no País, ao terminar a primeira década da nova centúria Arroyo era já o Português mais conhecido a nível internacional. Ao longo desta década ficaram célebres as recepções que dava em sua casa, com motivações sociais, políticas ou artísticas, em que reunia o Corpo Diplomático, o Governo e numerosos artistas, jornalistas, académicos e parlamentares. Foi neste início de século que Arroyo compôs as suas duas últimas óperas, Amor de Perdição e Leonor Teles, e organizou o catálogo da obra musical.

Dotado de invulgar facilidade pianística e sentido profissional, João Arroyo apresentou a sua música em diversos países europeus, tendo tido, em Janeiro de 1910, em Hamburgo, tal êxito que os espectáculos foram objecto de atenção em jornais de toda a Alemanha e Império Austro-Húngaro. Em resultado do estatuto que conquistara, foi nomeado Embaixador de Portugal em Paris, um sonho antigo que não se concretizou por ter recusado a condição imposta por António José de Almeida de aderir à República.

Os últimos anos da vida do Conselheiro João Marcelino Arroyo foram dedicados à música, à luta pelos ideais monárquicos e à viticultura, sempre seguido de perto pela imprensa periódica cuja simpatia soubera conquistar, independentemente de afinidades político-partidárias, tal como se passava com o seu vasto círculo de amizades pessoais, sendo, porém, de referir que na sequência do seu falecimento as poucas personalidades que lhe eram desafectas começaram a manifestar-se, contribuindo para o desenvolvimento de mitos que o século XXI já comprovou não terem qualquer relação com a realidade. Hoje em dia, quinze anos depois do início do século, a sua vida e a obra já foram objecto de estudo em teses de Mestrado e Doutoramento.

Autor: João-Heitor Rigaud

 

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