Biografia de Rebelo Bonito: Porfírio Augusto Rebelo Bonito (n. Concieiro, Santa Marta de Penaguião, 25 de Fevereiro de 1896; m. Porto 11 de Março de 1969). Com formação musical clássica e prática de regência coral, Bonito foi autor dos primeiros estudos sistemáticos de musicologia comparada em Portugal, tendo ocupado um lugar de destaque no movimento orfeónico que se configurou na cidade do Porto, na qualidade de orfeonista, regente coral e estudioso. Depois de concluir o curso do liceu de Vila Real diplomou-se, em 1917, em engenharia no Instituto Industrial e Comercial do Porto, ingressando, de seguida, no quadro técnico das Obras Públicas do Estado Português. Iniciou a sua aprendizagem musical em Vila Real, com o Tenente Chefe de Banda António Romano, continuada depois de 1917, no Porto, na classe da professora Alexandrina Castagnoli de Brito, com quem teve aulas de canto lírico. Foi sub-regente do Orfeão Académico do Porto*, entre 1916 e 1917 e em 1952, fundou o Coro Etnográfico Neves e Melo*, grupo que se extinguiria logo de seguida. Em 1947 ingressou na Comissão de Etnografia e História do Douro Litoral como membro efetivo, passando a dedicar-se ao estudo comparado de música de matriz rural do qual resultaram várias publicações. Dedicou-se ao estudo comparativo da música da tradição oral peninsular, do qual resultaram várias publicações. Bonito desenvolveu sobretudo estudos de ‘laboratório’, a partir de documentos coligidos por terceiros, embora também seja autor de transcrições musicais, sobretudo de pregões. Ao longo de mais de dez anos, elaborou o Prontuário da Canção Popular Portuguesa obra que apesar de ordenar de forma sistemática mais de 3000 temas da música da tradição oral coligida e dos esforços do seu autor nesse sentido, não alcançou a edição. Contrariando a tendência da etnografia do Estado Novo, que, nas palavras do antropólogo João Leal, se expressava através de um ‘discurso luxuriantemente nacionalista –mas teoricamente insignificante - em torno da cultura popular como essência da nacionalidade” (Leal 2000: 58), Rebelo Bonito trouxe para a etnografia musical a problematização e a discussão teórica. Também de forma inversa ao discurso vigente, Bonito não reduziu a diversidade musical regional a uma componente cénica no teatro nacional. As principais reflexões em torno do canto em coro publicadas durante a década de cinquenta em Portugal, foram assinadas por Bonito: “Canto Coral e vida orfeónica Subsídios para a história do Canto Colectivo Popular e Artístico” (1952), ; Villa-Lobos e a sua obra monumental em prol do canto orfeónico. O que foi, o que é e o que pode vir a ser a didática do canto coral em Portugal. Ideal de beleza: Portugal a cantar”. In Orfeão do Porto. Número comemorativo do 42º aniversário (1952); A voz e as mãos, instrumentos naturais humanos. Do canto individual ao canto em conjunto. Nageli e os coros masculinos. Zelter e os coros de câmara. Wilhem e a didáctica do canto coral” in Orfeão do Porto. Número comemorativo do 42º aniversário (1952); “Orfeão de Gondomar” in O Benfica (1958); “Do Orfeão Académico ao Orfeão Universitário (1912-1937)” in O Tripeiro (1962). Crítico musical na Rádio Clube Lusitânia, Porto, entre 1944 e 1945, onde proferiu 48 crónicas. Bonito colaborou, ainda, com vários periódicos como O Jornal de Notícias, O Tripeiro ou Actualidades Literárias. Em 1947, proferiu, aos microfones da Rádio Clube Lusitânia, a palestra “Os polifonistas portugueses na interpretação de Mário de Sampaio Ribeiro”, a propósito da atuação do coro Poliphonya. Autor de peças teatrais, proferiu palestras e conferências em várias instituições públicas, sociedades privadas e ainda no emissor regional do norte da Emissora Nacional. Publicações Rebelo Bonito (1954) “O Galandum e os seus problemass. Considerações a propósito de uma dança popular transmontana” Douro Litoral. 6ª série, fasc. III-IV: 3- 25 (1954b) “A Canção Popular Portuguesa Nótula de etnografia musical Separata de Gazeta Musical. Lisboa. nºs 39-40: 1-11 [1954c] “Música folclórica e música popular” Comunicação. Apresentada no Congresso Internacional de Folclore promovida pela Comissão do IV Centenário da Fundação de S. Paulo” [inédito, dactilografado, 49pp.] (1954d) Um cântico greco-latino e um texto musical de Gil Vicente. Transcrição em notação moderna de textos musicais só agora identificados. Lisboa: Gazeta Musical (1956) “A Rolinha”. Sep. Douro Litoral. Série VII, nº IX. [inédito] Prontuário da Canção Popular Portuguesa [inédito: versão sintética e truncada, com 76 páginas]. (1958) “A música nos autos de Gil Vicente”. Guimarães e Gil Vicente. Guimarães: Câmara Municipal de Guimarães. (1958) “Prefácio” Cancioneiro de Monte Córdova. Santo Tirso: Edição da Câmara Municipal de Santo Tirso. (1959 a) “Giroflé, flé, flá Um caso de aculturação franco-luso-brasileira” Boletim da Câmara Municipal do Porto. Vol. XXII, fasc. 1-2: 214-234 (1959b) Chulas, Charambas e Desgarradas. Porto: Imprensa Portuguesa (1960) “Os Cantos de Almuadem e os Alalás da Galiza”. Sep. Céltica. Cadernos de Estudos Galaico-Portugueses. Porto (1960) “As mouriscas na coreografia popular” Sep. Das Actas do Colóquio de estudos Etnográficos <‘Dr. José Leite de Vasconclelos>’” Vol. II Porto (1963) “Pregoes do Porto” Sep. Do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, fasc. 1-2, vol. XXVI. (1966) “Nossa Senhora na lírica popular”. Porto: Imprensa Portuguesa. (1966) “Recensões- Instrumentos musicais populares portugueses” Separata das Recensões Críticas da Revista Portuguesa de Filologia. Vol. XIV, Tomos I e II, 1966-1967