Fernando Miraldo (n. Covões, Cantanhede, 14 abr. 1946). Formado em Engenharia pela Universidade de Coimbra (1970-1982), trabalhou na área da engenharia dos transportes durante 39 anos, sendo responsável pela manutenção de vias férreas. Na sua juventude atuou enquanto baixista em vários grupos musicais. Foi cofundador do conjunto Os Czares (fundado em Aveiro), posteriormente renomeado Mandrágora.
Constrói cordofones desde 2008, como atividade de ocupação de tempos livres. Apoiou a sua aprendizagem no domínio da construção de instrumentos de cordas por meio da pesquisa em livros e em sites especializados na internet, bem como na observação de cordofones fabricados por construtores de referência. Na entrevista que me concedeu, salientou que o contacto com os músicos que recorrem aos seus serviços (e que frequentemente acompanham o processo de construção) tem contribuído muito positivamente para o desenvolvimento dos seus conhecimentos e competências no domínio da construção de instrumentos. Após a reforma, em 2011, Fernando Miraldo tem vindo a dedicar-se de modo mais permanente à construção de cordofones como a guitarra (clássica, acústica, eletroacústica e manouche), o violão, o violino, o bandolim, o cavaquinho (incluindo o designado 'machinho' de Coimbra), a guitarra portuguesa (modelo de Coimbra), a viola braguesa e a viola toeira. Paralelamente, dedica-se à reparação e manutenção de cordofones. Nos últimos anos construiu instrumentos para músicos como Alexandre Barros (viola braguesa), António Dinis (viola toeira), Hugo Paiva de Carvalho (guitarra portuguesa), Octávio Sérgio (guitarra portuguesa), Paulo Soares (guitarra portuguesa) e Pedro Damasceno, do grupo Diabo a Sete (machinho de Coimbra).
Desde 2014, apoiado pela sua esposa, Celestina Miraldo (responsável pelo trabalho de pesquisa e sistematização de informação) dedicou-se à construção de violas toeiras, projeto descrito por António Manuel Nunes como sendo "sustentado por uma experienciação cuidada e pela pesquisa de procedimentos historicamente sustentados que passam por trabalho de campo (mapeamento e estudo de exemplares de época), utilização de práticas artesanais e domésticas" (Nunes [em preparação], 189). Para construir violas toeiras apoiou-se nas imagens e descrições reproduzidas na obra Instrumentos Musicais Populares Portugueses, de Ernesto Veiga de Oliveira, bem como na observação e estudo de uma viola toeira construída por Raúl Simões (à guarda da sua filha, Maria Armanda Simões Lacerda Temido). As experiências de construção de Fernando Miraldo têm vindo a ser acompanhadas por músicos e investigadores implicados no processo de revitalização da viola toeira, como Adamo Caetano, António Freire, António Manuel Nunes, Daniel Gonçalves, João Vila e Miguel Luís. O trabalho de construção de Fernando Miraldo tem vindo a ser documentado e divulgado pela equipa do blog Guitarra de Coimbra.
Fontes:
Entrevista a Fernando Miraldo, realizada por Rui Marques. Coimbra, 4 de fevereiro de 2020.
Página web de Fernando Miraldo: fm - Construção de Cordofones, disponível em https://www.fm-construcaodecordofones.com [consulta: maio de 2020].
Nunes, António Manuel. [em preparação]. Coimbra, epicentro da viola toeira. As vidas de um cordofone. Coimbra: Fado ao Centro/ Fundação INATEL
Blog Guitarra de Coimbra V [várias entradas]. Endereço: http://guitarradecoimbra4.blogspot.com