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António dos Santos Bernardes (Toniber)

António dos Santos Bernardes (Toniber) nasceu na freguesia de Pinhal Novo, concelho de Palmela em 1944. Filho, sobrinho e irmão de tocadores de gaita de foles do Círio da Carregueira, do qual o seu avô espanhol era presidente, Toniber aprendeu a tocar de ouvido, num “pifarozinho” e por vezes na gaita de foles “galega” do irmão. Aos dezassete anos adquiriu uma gaita de foles e a partir daí começou a tocar anualmente no Círio dos Marítimos. Foi hipnotizador e ilusionista, tendo atuado em diferentes casas de espetáculo. Segundo José Domingos dos Santos Ratinho, tocador de caixa do Círio dos Marítimos, nesses espetáculos Toniber vertia um “casaquinho todo preto, de asa de grilo, com aquele chapeuzinho”, hipnotizava as audiências conseguindo que “as pessoas e as pessoas fizessem aquilo que ele queria”.

Toniber tocou em vários círios: no dos Olhos d’Água, no da Carregueira (durante cerca de quarenta anos) e no Círio Novo e no Círio dos Marítimos, este último desde 1969 e ao longo de 43 anos.  Nesses anos - afirma ele com evidente nostalgia - o “entusiasmo das pessoas” era maior, “quando nós tocávamos os jovens, a malta nova, vinham atrás de nós, mas isso foi-se degradando e agora já ninguém vai atrás de nós na rua. Havia uma pessoa que mandava foguetes aqui e ali, mas isso foi proibido pela câmara, agora só podem mandar fogo em cima do pontão. E o nosso acompanhamento somos os dois qua fazemos companhia um ao outro, vamos tocando pelas ruas. Há quarenta anos atrás, o entusiasmo das pessoas nas ruas era diferente. Eles chamavam a isto o cirinaio. Não havia estabelecimento ou café que não nos chamassem para beber” (entrevista a Toniber e a José Ratinho, 2012). O repertório que tocava nos círios era atualizado anualmente, com músicas novas. Nesse sentido, Toniber adquiria e ouvia os CDs com os últimos sucessos da música popular. Em 2012, o repertório de Toniber no Círio dos Marítimos era de “música popular portuguesa” e incluía a canção “O pai da criança”. Nos círios, Toniber participou nos peditórios que se realizavam dois meses antes da Festa de Nossa Senhora da Atalaia. Os músicos do círio percorriam o concelho de Palmela. O percurso era feito “em cima dumas carrinhas com gaitas de foles e clarinetes, entra-se de porta a porta para um peditório, para angariar fundos  para fazer a festa. Por isso é que se escolhe a gaita de foles que já é uma tradição muito antiga e isto até já andaram pelo campo a pedir em cavalos e em burros” (entrevista a José Ratinho, 2012). Segundo Toniber, “no círio da Carregueira, antes das festas da Atalaia, fazia-se um círio de dois meses, chamava a gente um peditório, andava-se pelo concelho a pedir e a tocar. Hoje isso acabou. O círio da Carregueira era formado pelo caixa, bombo , clarinete e a gaita e era o bandeira, era o saquinho, era o homem que escrevia o donativo. Quando conheci o círio dos Olhos d’Água era só gaita de foles e clarinete, que era para se distinguir dos outros. A gente vai acabando, o círio nunca acaba! É. A gente diz assim: Eh pá o tempo passa! Mas não é o tempo passa, quem passa é a gente! Estas coisas ficam cá todas, a gente é que vamos embora.” (entrevista a Toniber 2012).

Toniber tocou também por convite em festas nas localidades de Alfarim, Sesimbra, Loures, Lousa, A-das-Lebres, entre outras, integrado num grupo que incluía, uma gaita de foles, um clarinete, a caixa de rufo e o bombo. No início do século XXI, estes tocadores eram convidados para “festas mais pequeninas, como as possibilidades financeiras não são muitas, em vez de falarem a grupos com grande dimensão contratam-nos e o povo está habituado a esta música assim, gosta da gente e contratam-nos”, começavam a tocar em março, no Círio dos Marítimos, na Feira da Espiga e mantinham uma participação em festas até ao final de agosto, com a Festa de Nossa Senhora da Atalaia (entrevista a Toniber e a José Ratinho, 2012).

Toniber conheceu gaiteiros que tocavam nos círios, como por exemplo Zé da Costa, do Poceirão, o tocador que antecedeu o seu tio no Círio da Carregueira do concelho de Palmela; Calucho, da freguesia de Pinhal Novo, concelho de Palmela que tocou antes de si no Círio dos Marítimos. Conheceu também o tocador Roque de Torres Vedras que vinha tocar nos círios da Festa de Nossa Senhora da Atalaia, no concelho do Montijo.

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